Bom, finalmente após umas semanas mais atribuladas lá apareceu uma semana em que não se passou nada. É que não se passou mesmo nadinha. Tal foi a ausência de acontecimentos, que do pouco que tenho para escrever hoje diz respeito ao cheque dentário.
Eu já tinha percebido que nesta coisa da gravidez a mulher é tratada como uma rainha. Ele é dispensas, ele é cinco meses ao alto, ele é toda a gente a apaparicar a menina, prioridade no super-mercado... E no final ainda tem direito a um cheque dentário.
Fico feliz. A sério que fico feliz. Primeiro porque ainda que a F. não estivesse a precisar, é grátis e grátis é sempre um conceito a abraçar. Depois porque ao cabo de tanto tempo com o governo, o FMI, a Troika, o ex-primeiro ministro, o novo primeiro ministro, os candidatos a primeiro ministro, todos ao mesmo tempo a tentar enfiar-nos a gadanha no bolso, este cheque até vem quebrar a onda de roubos.
Ao mesmo tempo fico aborrecido. E fico aborrecido porquê? (perguntam as três pessoas que com receio de perder a amizade continuam a seguir este blog)
Porque me sinto descriminado!
Eu também uso dentes. Que por sua vez também doem como os outros, também necessitam de cuidados e atenção médica.
Sinto-me descriminado e sinto-me usado. Sinto que fui usado para gerar esta criança e que agora me tornei dispensável. Sinto-me o verdadeiro Louva-a-deus que após a cópula se despede discretamente e vai morrer sozinho num cantinho afastado (no caso do Louva-a-deus é bem mais grave).
Eu também quero um cheque dentista! Mas quero-o só por querer porque usar não faz parte dos planos, é que os dentistas têm agulhas e eu e as agulhas da-mo-nos malzinho...
Eu acho que isto do cheque dentário deve ser uma espécie de preparação para o registo do grande momento. A mega-foto de família com sorriso chapa cinco. A F. e a bebé, o médico e as enfermeiras, a senhora da recepção, as senhoras da Vadeca, o vigilante de serviço e o entregador de pizzas que apertando-se uns contra os outros e sorrindo como convém, me pedem com graçola e grande lata: "Olhe desculpe, o senhor não se importa de nos tirar aqui uma foto???"
Bom mas falando da Ritinha, que foi quem nos trouxe cá, fiquem sabendo que a vida dentro do útero está a ficar complicada. A Rita está a crescer e o espaço a diminuir, os ouvidos estão a funcionar a cem por cento, logo ruídos fortes ou movimentos bruscos podem assustar a Rita Catita. Os sons á sua volta começam a ser familiares, o bater do coração da F., o respirar, a barriga a roncar de fome, o roncar do pai à noite...
Desde a semana passada que a Rita aprendeu a andar à pancada, desde aí que volta e meia lá dá um soco ou um pontapé nas costelas da F. Quando a F. me chama e eu vou a correr para sentir "a pancada", é silêncio absoluto na mais santa paz do Senhor. Eu mereço...
O desafio lançado esta semana para o pai é, e passo a citar: "Tire muitas fotos da sua esposa. Mesmo que ela não goste, irá curtir mais tarde, quando ficar com saudades daquela "barriguinha". Peça para ela fazer uma pose tipo Demi Moore em Vanity Fair!" Ahhh...Falar é fácil, né???
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