terça-feira, 22 de novembro de 2011

39 semanas

Dois meses depois do nascimento da Rita cá estamos finalmente para relatar a última semana.
É uma vergonha, eu sei mas foi o melhor que se pôde arranjar e se todos colaborarmos fechando os olhos e imaginando que estamos em finais de Setembro é quase a mesma coisa.
(talvez seja melhor passar á frente a parte de fechar os olhos ou não vão conseguir ler o resto)

Eis que chegamos à trigésima nona semana, a semana que põe um ponto final neste primeiro capítulo da vida da nossa pikena maguerefe. De agora em diante tudo se passa tête à tête, o que de bom e tudo de mau e de mau acontecer é de agora em diante olhos nos olhos.

O início da semana foi bastante tranquilo, passado a tratar dos preparativos finais para o nascimento, a confirmar e re-confirmar que tudo está a postos para receber Sua Alteza, Rita Catita I (e única). Malas prontas, número de telefone do take-away à mão, máquina fotográfica carregada e victan na carteira (na bosinha secreta que outrora serviu de alegre albergue a contraceptivos de todas cores e sabores).

Segunda-feira foi dia de sessão dupla incluíndo no programa um jantar e cinema. Uma espécie de despedida desta dualidade que brevemente desaparecerá para nunca mais ser vista. Sob a bênção de Woody Allen nos lançamos assim do balcão da vida sossegada para aterrar na terça-feira, dia programado para o internamento da F.

À semelhança de segunda-feira, terça-feira avizinhava-se calmo... Avizinhava-se.
Aproveitamos o dia para para ficar na cama a contar carneiros até mais tarde uma vez que a entrada no hospital estava marcada apenas para as 17h30. Decidimos fazer um passeio mais prolongado com o Joka pois era o último que a F. faria com ele nos próximos dias. Teria sido uma boa ideia não estivessem a ligar do hospital passavam pouco mais de dez minutos que tínhamos saído de casa. O internamento tinha sido ligeiramente antecipado para... Imediatamente!
Acabamos o passeio e voltamos a casa para apanhar as malas da F. e dirigirmo-nos ao hospital.
Escusado será dizer que as despedidas foram chorosas... Era a primeira vez em seis anos a F. e o Joka se iam separar e já esperava que este não fosse propriamente o momento mais fácil.
Nos dias seguintes de cada vez que entravamos em casa, o Joka ficava eufórico e corria a casa toda a dar ao rabo em busca da F. até perceber que eramos os únicos, os Reis e Senhores de um castelo completamente vazio e solitário.

Quarta-feira foi um tal de corre-corre, quer físico, quer psicológico. Após passear e alimentar o Joka e dar um jeito rápido no "castelo", há que correr para o hospital para estar com a F. e não deixar que suporte a pressão do dia sozinha.
Estivemos juntos até às quatro da tarde, hora que a vieram buscar para preparar para o parto. Acompanhei-a  ao bloco até receber um sinal vermelho - "Pai, daqui não passa!"
Pela primeira vez em toda a gravidez senti-me completamente inútil e daqui para a frente a F. estava por conta-própria. Foi um sentimento muito estranho. Toda a gravidez foi uma caminhada a dois, era um "projecto" conjunto e à excepção do que por natureza pertence unicamente à mãe, sempre tentei que a F. não se sentisse desamparada.

As horas foram-se sucedendo, as portas contíguas à do bloco operatório abriam-se e fechavam-se  com médicos, enfermeiros e auxiliares constantemente a cirandar de um lado para o outro. Por momentos tive a sensação que estavam a fazer apostas para ver qual deles seria capaz de me provocar um ataque cardíaco.
Vinha um e abria uma porta... Calma, vou trocar de roupa.
Vinha outro e abria outra porta... Mas era só para entregar uns papéis.
E mais outros dois... Numa agradável e aparentemente divertida cavaqueira.
E mais outro e outro e outro... Durante duas longas horas.
Alto, vem aí outro... Djarannnn, ainda não é desta!

Por fim lá se abriram as portas do bloco de onde saiu uma enfermeira com uma caixota transparente com qualquer coisa lá dentro que ao longe me parecia um Wrap do McDonalds mas um pouco maior. Será que aquele embrulho tinha escrito por fora: "Rita Catita. Manter em local seco e arejado"?
Com o coração aos saltos e as pernas a bater castanholas, dirigi-me à enfermeira tentando disfarçar o nervosismo o melhor que sabia. Não corri para não dar parte de fresquinho, nem me limitei  a andar para não parecer desinteressado. O melhor que me lembrei na altura foi assim uma espécie de marcha olímpica, que mais tarde vim a perceber que fora do seu contexto desportivo é despropositado e de difícil explicação... Ainda tentei explicar perante a grande indiferença da enfermeira que apesar do meu esforço em clarificar os factos simplesmente dizia - "Ahan, ahan...Ahan...
Mas ainda não era a Rita, era um Rodrigo, um Rodrigo Não Sei Das Quantas. "Mas não se preocupe pai que o seu é o próximo!"
O seu é o próximo? O seu é o próximo? Como é que eu posso confiar nesta personagem se nem sabe que não é um próximo mas sim uma próxima?
Finalmente, meia-hora depois lá apareceu de novo a enfermeira desta feita com uma encomenda em meu nome. A Ritinha acabara de nascer e estava ali á minha frente deitando por terra toda e qualquer preparação que pudesse ter feito para aquele momento. A pirralhinha que sempre se recusou a mexer para que eu a pudesse sentir excepto em dia de jogo do Porto havia chegado com as malas feitas e bilhete só de um sentido. Pequenina, muito enrolada, só se via mesmo a pontinha do nariz. Era a pontinha de nariz mais perfeita que alguma vez tinha visto.
Subimos ao quarto e aí pude ver o resto cara. Era tão gira quanto a imaginava com a cara rechonchuda, olhos azuis e o nariz empinado. Há quem diga que se parece comigo, acho que é da praxe. A verdade é que os bebés não se parecem com ninguém. Bem, as mãos são iguais ás minhas, são grandes. E sempre fechadas mas aí já sai à F.
De feitio torcido e moderadamente chorona a Rita chegou cansada mas de perfeita saúde, com cinco dedos em cada mão e voz de rouxinol!

A F. também está bem, segundo ela até fez uma nova amiga no hospital que a visita com regularidade... A morfina. Assisti a uma dessas visitas. Imaginem um cão a correr e a saltitar quando vê o dono aproximar-se com o prato da comida. Pronto, era mais ou menos assim quando a F. via a enfermeira  com a morfina. Parecia que tinha bichinhos carpinteiros, os olhos sorriam emanando tal luminosidade que iluminava todo o quarto e corredores da enfermaria.
No terceiro dia quando cheguei ao Hospital por volta do meio dia já estavam as duas vestidas, de malas feitas e prontas para ir para casa. Daí para cá tem sido um rol de experiências novas mas que não pertencem a este blog. A pergunta que se impõe agora que a pimpolha já cá está é - "E agora que a Rita nasceu?"

Mas isso já é outra história...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

38 semanas

Penúltima semana antes da maior mudança de que tenho memória. A verdade seja dita que não é lá grande referência, uma vez que a minha memória tem uma duração média de 3 segundos chegando no entanto a alcançar os 5 quando sóbrio, relaxado e por tempo claro. Mas estou certo que é uma das maiores senão a maior mudança de sempre. A partir da próxima semana deixamos a vida tal e qual a conhecemos (adoro esta expressão), deixamos de ser dois para ser três. Ou melhor, deixamos de ser três para ser quatro. Já não somos dois desde há seis anos quando o caramelo do Joka Eucádio se cansou dos ares Lisboetas e se mudou da Costa da Caparica para a Maia (sim, o Joka é um betinho).

Esta semana tem sido relativamente calma o que me deixou algum espaço para pensar no futuro próximo. Tenho tentado fazer um exercício mental que consiste em imaginar como será a vida daqui a uma semana comparativamente com a que temos hoje.
É estranho, mas não consigo. As rotinas e os hobbies, os hábitos que criamos durante anos e anos, simplesmente não são compatíveis um recém nascido sem que haja lugar a grandes alterações nas rotinas. Como diria um famoso jogador de futebol da nossa praça, "Sem que a vida dê uma volta de 360º".
Isto quer dizer mais exactamente o quê?
Amanheceres tardios? Já fostes!
Saídas para jantar e cinema? Já fostes!
Noites sossegadas de sono? Não tinha muitas mas agora... Já fostes!
O copo ocasional no Batô, os almoços ás quatro da tarde e os raids de BTT? Sei lá... Espero sinceramente que "Não fostes!"

Bom, mas por agora avizinham-se quatro semanas de "semi-ócio". Uma pequena pausa do stress do quotidiano laboral absurdo que ao longo dos anos deixei que me fosse absorvendo. Um mês de completa e absoluta concentração na Ritinha, na F. e no Joka. Que mais posso pedir?
E se tiver que perder noites de sono? Pela primeira vez na vida são por um bom motivo...

Apesar do relaxamento que o afastamento do trabalho proporcionou à F. noto que o aproximar do grande momento tem provocado nela um nervoso miudinho. Anda mesquinha o raio da rapariga.
"Fecha o frigorífico", "Olha o pano que está torto!", "Pega num prato que o chão está limpo".
Esta semana cismou que eu havia de atravessar a casa de lés a lés ás escuras e encontrar o comando do DVD sem acender a luz porque esta teve um aumento no IVA (eram 22h00 em Portugal continental).
Não sei se é pela cesariana em si. Não sei se é por ter que ir uns dias para o hospital. Não sei se é por ter que deixar o Joka ao meu cuidado tendo que confiar em mim a responsabilidade de o alimentar e levar a passear a horas (o que nos remete de novo para o meu problema de memória). Não sei se é simplesmente a ansiedade provocada pelo tempo que resta.
Não sei se é por isto, se é por aquilo, se é por tudo ou se é por nada. Porque sim ou porque não. Não sei. Não sei até se ela já se apercebeu, mas se não se apercebeu não vale a pena dizer nada, pois em abono da verdade já só faltam mais uns dias.

E porque falamos em hospitais, levanta-se a seguinte questão:
Hoje em dia já ninguém tem filhos em hospitais públicos?
Cada vez que alguém me pergunta onde a Rita vai nascer sinto que esperam da minha parte uma escolha de um hospital todo XPTO, privadíssimo, com porteiro e recepcionista e tudo e tudo e tudo. Um hospital com nome de um santo ou então de uma cidade mais a Norte. Mas não, lamento informar mas por razões inexplicáveis, ainda acredito que os hospitais públicos têm médicos competentes o suficiente para realizar um parto e deixar que lhes confie a saúde da F. e da minha filha.

Para terminar, uma pequena nota relativamente a algo que se passou por estes dias e que me deixou um pouco apreensivo e até assustado.
Lembram-se da pequena Rita que durante oito meses não se mexia? Pronto. Durante este último mês tem mexido como uma louca,. Não sei se anda a fazer "private parties" na barriga da F., se anda a fazer alongamentos para esticar os músculos ou se anda a ter lições de paso doble. Sei que quando eu vou a correr para pôr a mão, como sempre pára todo e qualquer movimento. Porém esta semana durante um jogo do FCP, não só rebolava como uma louca, como nem a minha mão sobre a barriga da F. fez com que parasse.
Bom, o FCP ganhou e a Rita ainda continuou com os festejos durante mais vinte minutos.

Uma portista cá em casa bem ou mal ainda se aguenta... Mas duas? Lord have mercy on us!!!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

37 semanas

Estamos a chegar ao fim desta jornada, já deixamos para trás trinta e sete semanas e faltam apenas duas para completar a pré-história da Rita.
Duas semanas iguais a todas as outras mas que no entanto me parecem dois meses. Ao mesmo tempo, o tempo que falta parece-me pouco para tudo que ainda falta fazer. O que é que falta fazer? Sei lá, acho que nada. Ainda assim não sei se vou ter tempo!

As aulas de preparação para o parto terminaram. Com elas terminaram os olhares de desdém que a F. levava de cada vez que alguém dizia em voz alta a palavra "cesariana". Acho que no fundo a F. representava para o resto das futuras mamãs uma espécie de Robocop da maternidade.
Não percebo o porquê da surpresa, por um motivo ou por outro, todas elas em alguma altura serão alvo da sobranceria do colectivo.
Uma porque é um pãozinho sem sal, até um supositório consegue ter mais sex-appeal.
A outra que para ser um sofá só lhe faltam duas almofadas (ás vezes quando vem de carteira juro que não é fácil distinguir).
E a outra? Sim essa, a Brasileira que fala pelos cotovelos e já ninguém a pode ouvir. Que já teve todas as doenças do mundo quando era piquéniná, né?
Falam mal umas das outras, medem-se de cima abaixo, avaliam-se e vão-se testando umas ás outras com sorrisinhos e comentários "construtivos" carregadinhos de segundas, terceiras e quartas intenções. Enfim, nada de novo no mundo das mulheres.
Já os maridões são mais directos e objectivos. Desde o dia em que me lançaram o olhar do "Estou-te a ver, juízinho que eu estou-te a ver!", mantiveram a coerência e saí de lá conforme entrei. Não fomos beber cervejas, não fizemos o "male bonding" nem partilhamos e-mails de baixo nível. Nada, nickles, népia, nichts,  nestes; nerone!

A última aula desta semana foi assustadora. Primeiros-socorros.
Aquilo que tentamos convencer-nos a nós próprios que nunca iremos precisar, que só acontece aos outros e aos filhos dos outros que são tão otários que nem sabem engolir convenientemente.
Eu sei que as crianças não andam por aí a bater com a cabeças nas paredes ou a entalarem-se com pedaços de pão e caroços de azeitona, ou será que andam?
E se isso acontecer quem é que eu quero ser? Quero ser o tipo que teve vergonha de pegar no boneco e dar-lhe dois valentes murros nas costas para expelir o grão-de-bico que foi para o sitio errado, ou o que prestou atenção ás aulas de preparação, fez ressuscitação cardio-vascular num boneco que faz chichi e diz "gosto tanto de ti, abraça-me" e aprendeu as práticas que podem vir a salvar a vida de um filho?

Estas dúvidas fazem-nos pensar no significado de ter um filho. Os vários pontos de vista possíveis.
Ponto de vista romântico - É o resultado do amor entre mim e a F.
Ponto de vista cientifico - Não passa do resultado de uma caboiada e ponto final.
Ponto de vista teológico - O padre da freguesia jura a pés juntos que é uma dádiva de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ponto de vista Social - As finanças esfregam as mãos pois para eles é mais uma contribuinte.
Para mim? Não sei.... Sei que nunca senti tão pouco controle sobre mim próprio, sobre os meus próprios sentimentos e medos. De repente deixei de ter vontade de comprar coisas para mim, tudo me parece dinheiro mal gasto, já com coisas para a Rita são sempre um bom investimento.
Ansiedade? Chegou a novos níveis. Actualmente vivo ansioso, já se tornou uma forma de estar. Vivo ansioso que a Rita nasça, vivo ansioso por lhe dar o primeiro banho, por lhe pegar ao colo a primeira vez, vestir-lhe o primeiro fato que lhe compramos e que tem umas orelhas de urso.
Vivo ansioso por chegar a casa do primeiro dia de trabalho e tê-la lá com a F. e com o Joka num quadro perfeito. Anseio os primeiros passos e as primeiras palavras. A primeira bolsada numa camisa acabada de vestir.
Tenho vivido os últimos anos da minha vida a a lutar contra a ansiedade. Mas não desta vez, afinal a ansiedade não tem necessariamente que ser qualquer coisa de mau e negativo, Nem toda a ansiedade se traduz em nervos e mal-estar.
Ás vezes simplesmente andamos ansiosos por um bocadinho extra de felicidade...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

36 semanas

São nove horas da noite, ou vinte e uma horas se preferirem... Tudo está calmo. Ou melhor... Tudo está assustadoramente calmo. Curiosamente esta semana quando esperava que a ansiedade e a tensão que tenho sentido batessem no tecto, simplesmente desapareceram sendo substituídos por um único sentimento que à semelhança dos anteriores, nada fica a dever à nobreza - A inveja! Estou roído de inveja. Rubro de inveja. Eu redefino o conceito de inveja!
Todos os que me antecederam nesta coisa da caminhada pré-parental sabem do que falo e estou certo que por mais que o neguem... Mentem descardamente, mas eu grito a plenos pulmões!
EU ESTOU CHEIO DE INVEJA DA F.!
Esta semana foi dia da consulta de termo. A consulta em que se definiu o percurso remanescente até ao nascimento da Rita. Assim, a primeira medida tomada pela médica foi mandar a F. de baixa. - "Não trabalha mais pois precisa de relaxar."
Pezinhos ao alto, muito descanso e Piñacoladas! Ahhrrrr que inveja! São seis meses de dolce fare niente, seis meses de inépcia total e escancarada. Seis meses de ócio, preguicite aguda, grave e esdrúxula!
Eu sei que não é digno e que não me fica bem, sei até que partilhar este tipo de sentimento acaba com todas as hipóteses de um dia vir a concorrer a Presidente da República Portuguesa por ser demasiado honesto e sincero, mas eu admito...

QUE INVEJA!!!!

Confissões e desabafos arrumados, prossigamos então agora mais aliviados!
Nesta mesma consulta ficamos a saber a data do nascimento da Ritucha.
Preparem-se minha gente pois ao vingésimo primeiro dia do nono mês do ano dois mil e onze D.C., Rita Catita estará cá fora. Acaba o Verão, começa a Ritinha!
Se a catraia não se resolve a dar a volta, então já não há volta a dar. Cesariana seja! A data já está marcada, a preparação psicológica está feita e dia vinte e um lá estamos para receber a pimpolha.

O facto de ser cesariana vem também acabar com uma outra questão que me assaltava o pensamento - O corte do cordão umbilical. Vamos lá ver, eu sei que não dói. Eu sei que não magoo a criança ou a F. a não ser que tenha muito má pontaria. Eu sei que, segundo se diz, é uma sensação única e um momento memorável.
Eu sei. Mas que posso fazer? Não consigo deixar de pensar que era um corte de responsabilidade. Um corte da mais alta costura obstetra da casa Parisiense e eu nunca fiz um corte umbilical na minha vida.
Se me têm avisado antes ainda comprava umas tripas no talho lá da rua e ia treinando em casa.
"Ó amigo, corte aqui por favor. É mais ou menos, não se preocupe!"
E pobre de mim com um bisturi na mão. Mais á direita está a criança. Mais á esquerda está a F. E se me foge o bisturi e corto uma veia à enfermeira? Ou um tubo de oxigénio? Ou mesmo a tomada do ventilador de um velhinho?
 E já agora porque raio é o pai a cortar o cordão quando os médicos fizeram uns cinquenta corte antes? É um corte simbólico? Um corte com o passado, as jantaradas e as borracheiras, as noites bem dormidas e as visitas tardias. Idas ao cinema, teatro, bares e discotecas. Um corte com as antigas prioridades. Um corte com a vida tal e qual a conhecemos!
"There´s a new xerife in town". Daqui para a frente, só dá Ritinha!
Bem, mas a não ser que consiga entrar de penetra no bloco, alguém fará o corte por mim...

Esta semana, uma vez mais foi necessário "enfrentar o monstro patronal", foi preciso relembrar que em três semanas podem dizer adeus aqui ao rapaz. Durante quatro semanas não estou de serviço. Não estou para ninguém que não a F., a Ritinha e o Joka Eucádio! Durante quatro semanas, se precisarem de alguma coisa vão chatear Sua Santidade o Papa!!!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

35 semanas

Alto e pára o baile.
Rufem os tambores, lancem o foguetório e abram o champomy!
A Rita atendeu aos nossos pedidos. É verdade... Podem ficar descansados. A Rita já deu a volta...

AO CONTRÁRIO!

Tão pequenina e já sai à mãe nestas andanças das direcções. Só faltava um bocadinho assim... Um bocadinho pequenininho (que palavra tão diminuta) como um danoninho. Se ela olhasse para o lado eu acho que já dava. Eu acho até que de tão perto que estava, ela se estava a segurar para não cair para a posição ideal... E não é que a teimosa rodou, rodou, rodou até ficar de novo sentada???
Era assim tão difícil colaborar Sra Dona Rita?
Bem, vamos ficar à espera de uma confirmação oficial na próxima consulta, mas de acordo com as palavras da ginecologista, "Só se a rapariga fosse uma grande contorcionista é que ainda fazia o pino."
A princípio a F. ainda ficou um pouco apreensiva. Como a cesariana exige um dia extra de internamento e acarreta uma recuperação mais demorada, um parto "normal" estava na linha de frente das nossas preferências parturianas (palavra inventada por mim mas como este blog não tem livro de reclamações, amanhem-se!).
Mas depois de a médica explicar que um primeiro parto implica uma média de dezoito horas de parto; depois de fazer um "toque" à F. e dizer: - Tá a ver? O parto "normal" dói assim... Só que mais; depois de explicar o conforto e rapidez de um nascimento programado, fez na F. uma nova amiga para a vida. Fez na F. e fez em mim, confesso que não estava preparado para aturar a F. durante dezoito longas horas a insultar-me e a apertar-me os pulsos até ficar com as mãos roxas por falta de oxigenação.
Portanto Ritinha... Segura-te mulher... Tu não me desgraces!

Na eco desta semana descobrimos também que Sua Alteza, a Princesa Rita I já pesa 2,3kg e que é compridola como o pai.

Esta semana também comecei a estudar a papelada que tenho que tratar aquando do nascimento. Isto requer planeamento cuidado... Desde registar a pintelha (hospital e finanças), licenças de paternidade, inscrição da pimpolha no sistema nacional de saúde e no pediatra e a pedido da F. a inscrição urgente de sócia do FCP... Acho que vou precisar de uma assistente para me ajudar a gerir tudo isto (os gestores públicos fazem bem menos e também têm, portanto...).

Estamos cada vez mais perto do grande dia. Já passou mais uma semana e um dia destes a Ritinha está aí a bater à porta. Cada vez é mais difícil conter a ansiedade causada pelo tempo que ainda falta.
Bem, o melhor mesmo é relaxar e apreciar, afinal de contas "a felicidade está em percorrer o caminho e não na chegada" ou uma treta qualquer assim do género. Pouco importa o ditado, no fundo, no fundo só preciso de me convencer a mim próprio de que estas próximas semanas vão passar rapidamente e que não vou explodir entretanto...




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

34 Semanas

Trinta e quatro semanas passaram e voltas nem vê-las. Aparentemente a Rita não dá voltas a pedido. Não há meio se pôr a jeito para um grand finale à La Féria. É verdade que ainda há algum tempo e que até ao lavar dos cestos ainda é vindima, e também é verdade que se não der a volta vindima-se pela barriga mas a gente queria saber, prontos...

Nesta recta final tudo começa a ficar mais difícil. A F. tem cada vez mais dificuldade em movimentar-se tendo como efeito colateral imediato as tarefas mais penosas das limpezas da casa passarem a ter que ser feitas por mim, o que por si só já faz com que comecemos mal esta conversa.
Os nervos flutuam como gás lacrimogéneo. Andam á flor da pele, os dela e os meus, a ansiedade de já faltar menos de um mês anda a dar comigo em doido. Só de pensar que dentro de quatro semanas já temos a pimpolha a espernear do lado de fora até me faz urticaria.
Por causa do stress e da ansiedade, a já baixa tolerância com que andava para com as situações de confronto social tem vindo a baixar ainda mais. Se não for desta que me pegue com alguém no trânsito, não me pego mais na vida.
Com o aproximar do grande dia, convenientemente o trabalho parece ter aumentado descontroladamente. Todos os problemas apareceram para resolver, há colegas de férias, os que não estão mais valia que estivessem, eu sei lá!
As decisões de última hora em relação ao nascimento da Rita que andei a adiar também ja avisaram que precisam de ser resolvidas.
Ok, agora sim sinto-me preparado, venha de lá esse ataque cardíaco!

Esta semana fomos visitar as instalações do hospital onde terá lugar o nascimento da nossa pulguita.
A idéia é que quando chegar o tal dia tudo nos seja mais familiar, que já conheçamos o espaço para que nos mexamos melhor e tudo pareça menos assustador.
Não funcionou! São salas e salas e mais salas. E armários e mais armários e convenções que tenho a certeza quando chegar o dia não me vou lembrar.
É a sala de parto, a ante-sala da sala de parto. O corredor que antecede a ante-sala de parto e que liga esta à sala de parto em si. São os armários para guardar os coisas que quando nascer a Rita tenho que ir buscar. E que têm que estar ao de cima, que depois são para vestir, e que há que registar, mas que já é num outro andar e tenho que levar os bilhetes de identidade. Mas se não for parto normal já não é ali. Pego nos sacos e corro para a obstetrícia. Que é em outro andar que não o do bloco operatório, que é onde a Rita vai nascer, e onde tenho que estar quando a enfermeira gritar "Quem é o pai desta menina???".
E os armários? Pequeniiiiiiiiinos... P´ra caber muitos! Mas cabe. Estive a medir e cabe. Suei. Já há uns anos que não suava só com o esforço mental, confesso... Pensei e repensei e ponderei e reponderei se é que isso existe... Tinha que caber, estes armários foram feitos para isto. Ao cabo de uma hora fiquei muito feliz ao constatar que cabia. Quase, quase não que cabia mas tirei o saco com as coisas da F. e o saco da máquina fotográfica já coube na perfeição! Ufffffff...


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

33 Semanas

Trinta e três semanas volvidas e aparentemente ainda assim não chegaram para a Rita Catita dar a cambalhota e se preparar para o grande salto. Continua de lado e o espaço sempre a diminuir tornando cada vez mais difícil fazer o pino. A continuar assim estamos a olhar para uma cesariana.
Se realmente a Ritinha continuar irredutível, ao menos que mantenha essa filosofia até à adolescência e quando os maguerefes vierem rondar a porta à procura de umas "cambalhotas" que os mande "cambalhotar" com a tia deles.

Esta semana nas aulas de preparação para o parto, o tema central foi o temperamento das crianças.
Quando eu era ainda um petiz havia putos mongas e putos traquinas, havia os morcões e os reguilas, os assim assim e uma classe muito à parte, os pidés. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e dos estudos científicos reduziram-se todos estes géneros a três: As crianças de temperamento fácil, as de temperamento difícil e as de temperamento misto.
De acordo com os mesmos estudos, as crianças de temperamento difícil devem ser "conduzidas" em vez do tradicional "contrariar". Vou dar um exemplo:
- A criança A é difícil e cisma que quer brincar com a faca de cozinha. A mãe deve pegar num brinquedo e convencer a criança que este é bem mais interessante de modo a que esqueça a faca.
Custa-me a entender aqui uma coisa. Porque é que a criancinha não pode ouvir um não? Vai ficar traumatizado? Vai crescer sob a premissa que deve abrir mão de algo apenas se encontrar algo melhor?
Parece que já o estou a ver na adolescência. Como é que a mãezinha vai resolver todas as situações em que o menino levar com um não?
- Ó mãe, a Joaninha não quer namorar comigo!!!
- Deixa lá meu amor, toma lá 20 euros e vai ás "meninas" que são bem melhores.
- Ó mãe, O Manel não me deixa andar no carro dele!!!
- Deixa lá meu amor, vai de autocarro que é bem melhor.
- Ó mãe, o pai está lá em cima no quarto com a empregada!!!
- O quê???
- É... Segundo ele é bem melhor...
Pelo amor da Santa gente, os catraios não são um jogo de louça chinesa. Eles aguentam um não, eles precisam de ouvir nãos para se desenvolver. Precisam de pensar em formas de resolver os seus próprios problemas, arranjar soluções para as suas necessidades.

Essa filosofia do reforço meramente positivo funciona lindamente nos seminários, quando aplicada á prática cria jovens chatos e mimados, meninos que vivem agarrados á saia da mãe. Não admira que hoje em dia os putos tenham quinhentas actividades extra-curriculares. Quanto mais tempo estiverem ao cuidado dos outros, mais sossego dão aos pais. Nunca viram uma destas crianças? Já viram já. São aqueles fedelhos que gritam imenso em locais públicos, que fazem birra no super-mercado e têm dificuldade em interagir com as outras crianças, aqueles que correm por entre as cadeiras dos restaurantes sob o olhar impotente ou até mesmo desinteressado dos pais.

Aqui podem ler um artigo sucinto mas certeiro acerca deste assunto.

Esta semana voltamos a levar um susto com vestígios de sangue. Nós sabemos que não são razão para alarme mas a verdade é que daquele friozinho na espinha ninguém nos livra.

Há já umas semanas que tenho vindo a notar que ando com o pavio cada vez mais curto. Qualquer coisa me irrita, a besta do carro ao lado, o senhor que não gosta de cães e a senhora que faz dez operações seguidas no multi-banco quando tem uma fila de cinco metros atrás de si. Começo a sentir uma tensão interior, uma necessidade de espancar alguém que nem é bom pensar. Bom, mas entendidos no assunto garantem-me que é normal, é uma espécie de tensão pré-parto que após o mesmo é substituída por um estado igualmente intenso de alegria e vontade de abraçar toda a gente, o bacano do carro ao lado, o senhor que não gosta de cães mas é uma jóia com as crianças e a senhora que podia ter feito vinte operações na caixa automática mas que optou por fazer apenas dez.
Pelo sim pelo não mantenham-se a distância e se tiverem mesmo que se aproximar... Primeiro perguntem se é seguro!