quarta-feira, 27 de julho de 2011

29 semanas

Segunda semana de férias. Agora que o quarto já está pronto é chegada a hora de "catalogar" as toneladas de roupas que de um momento para o outro apareceram cá em casa. Eu não sei se alguma vez experimentaram estar dois dias a olhar para roupas cor-de-rosa... Deixem-me dizer-vos que deixa marcas na retina que são irreversíveis.
Ser dos últimos do grupo de amigos a ser pai tem as suas vantagens. Não há horários, bebemos mais cerveja pois não temos que dar o exemplo, podemos usar calão e cuspir palavrões como se tivessemos sido destacados para a Bósnia e muito importante... Mitramos  o imobilizado pueril.
Eu não sei se já pararam para ver o preço dos carrinhos, dos parques, das roupas, dos biberons, no fundo tudo que se relacione com a canalhada. Eu já. Não tivesse já esta tralha toda lá em casa patrocinada pelos amigos e juro que desmaiava (quem me conhece sabe que não sou de desmaiar, excepto quando tiro sangue). A continuar assim, e olhando aos créditos parvos que se fazem para férias, telemóveis e outros bens e serviços de segunda e terceira necessidade, não me admira que qualquer dia se peçam créditos para comprar bugigangas infantis por atado.
Bom, mas á conta dos casaquinhos, das saínhas e camisolinhas (e pronto, numa frase gastei todo o plafond de palavras pequeninas que tinha disponível para este post) pela primeira vez vi a F. rendida. Muito contente e enternecida lá ia dobrando e arrumando a indumentária da cachopa separando por tipo, cor e tamanho. Foi bonito.

Já tinhamos visto que aos poucos há que ir ajustando os nossos hábitos (semana 19), assim há que ir criando desde já uma pikena biblioteca multimédia, afinal de contas estou a contar com ela para nos proporcionar alguns momentos de sossêgo. Assim, a Hello Kitty, o Winnie The Pooh, a Barbie e o Panda do Kung-fu que se diga, é filme para ir bem com uma cerveja, têm vindo a substituir na prateleira o lugar do John Statham, da Angelina Jolie ou do Banderas.

As aulas de parto desta semana começaram bem, no primeiro dia chegamos atrasados e no segundo fiz três inimigos.
Segunda feira falamos de amamentação. Mamas para cima, seios para baixo entre outros termos como mamilos, mamada, etc... Pior, com ilustrações. Há que ter cuidado com determinadas palavras, afinal de contas na gravidez a mãe não é a única que anda sensível...
Na quarta feira, recebi "aquele olhar" dos outros três pais que costumam estar presentes nas sessões. Com a ajuda da F. vim a descobrir que faço muitas perguntas e tiro demasiadas anotações, o que os deixa numa posição sensível em relação ás respectivas parelhas. Aparentemente cada vez que faço uma pergunta elas olham para eles com aquele olhar - "Tás a ver? Tu não mostras interesse assim porquê???"
Espero que ninguém perceba que só faço perguntas para ver o circo a arder e que as anotações no meu caderno não passam de esquissos sexuais inspirados nas aulas e respectiva temática.
Durante as próximas três semanas não há "aulas", pode ser que dê tempo para se esquecerem e ainda irmos a tempo de beber uma cerveja e fazer male bonding".

Esta semana é no que respeita ao desenvolvimento da Rita, a semana do alívio. É aquela semana que marca o ponto a partir do qual se a Rita resolvesse nascer mais cedo, as probabilidades de sobrevivência já rondavam os 90%. Já mede aí uns trinta e cinco centímetros e pesa mais do que a F. sonhava que pudesse vir a pesar...
 Diz-se que devemos nesta fase a começar a falar para a barriga para que a bebé comece a reconhecer a voz. Agradeço quem conheça técnicas de mensagens subliminares que deixe contacto. A ideia é ir mentalizando a catraia de que os rapazes e as suas pilinhas são coisa do demónio...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

28 semanas

Férias! Férias! Férias! Façam lá de conta que não estão roídos de inveja e digam comigo... F-É-R-I-A-S!

Pois é, estamos de férias. Durante três semanas (uma já vai na conta) é pernas ao alto, deitar tarde e dormir até ás tantas. É passear, visitar os amigos e fazer churrascos. Ir ao cinema à segunda-feira, ir para a praia e andar descalço de manhã à noite. Passear o Joka ás quatro de la matin e tomar o pequeno almoço ao meio dia.

Era bom não era? Este ano está a ser um pouco diferente. Pelo menos esta primeira semana foi inteiramente dedicada ao quarto da Rita. Obras,obras e mais obras... Isto de decorar um quarto de criança tem muito que se lhe diga... É quase como uma receita culinária.

Ingredientes:
- 1 lata de tinta lilás alfazema
- 1 lata de tinta branca
- 1 lata de tinha fúcsia ou fuchsia ou rosa-choque ou magenta eléctrico (dava pano para mangas)
- Massa para buracos.
- 2 rolos de fita de papel (normalmente1 chega mas estava a mais de meio)
- 1 rolo de papel de parede fófinho
-  Prateleiras e cubos a gosto
- 1 suporte de TV+TV
- 1 cama de grades de tamanho standard
- 1 cómoda espaçosa
- 1 par de cortinados marron
- Enfeites vários
- Stickers de florzinhas
- Stickers de bicharada
- 1 tapete da sininho
- 1 candeeiro com flores e borboletas

A primeira coisa a fazer é preparar o quarto protegendo o chão e isolando as madeiras.
Pegue nos buracos e encha-os com massa. Deixe secar e lixe.
Em seguida abra a lata da tinta branca e pinte o tecto. Constatará que pintou o tecto, o chão, as paredes o roupeiro, as portas,o sofá e o cão tem pintas novas. Aproveite enquanto está cheio de força e avance para a próxima fase. Junte a tinta lilás ás paredes em quantidade adequada. Num recipiente à parte junte as prateleiras com a tinta fucsia e misture até que se fundam. Limpe o chão, as portas, o roupeiro e o sofá que sujou ao pintar o tecto. Junte o papel de parede com as portas do armário e os stickers de animais. Deixe repousar alguns uns minutos.
Nas paredes previamente pintadas junte agora as prateleiras, os cubos, os stickers com flores, o varão e as cortinas. Na parede do fundo, disponha a tinta branca e a tinta fucsia de modo a que se assemelhe à hello Kitty.
Nesta altura é seguro acrescentar as mobílias, as tintas já tiveram tempo para levedar e não se fundirão. Junte também o candeeiro de tecto e o tapete da sininho.
Decore a seu gosto com peluches e bonecos.

Et voilá, sai um quarto cor-de-rosa!


 

Esta semana também iniciamos as aulas de preparação para o parto. Como é que hei-de explicar isto? Vai ser difícil de aguentar... Fomos a duas sessões, a primeira foi uma sessão de cinema Francês cuja película se chamava "A Odisseia da vida". Dá para imaginar, não dá? Ok, então poupemo-nos a esse trabalho e prossigamos.
A segunda foi dedicada a técnicas de relaxamento. Técnicas muito zen, com imagens felizes e músicas felizes e poemas e respiração feliz e coisas...
Uma técnica a título de exemplo, é imaginar coisas felizes. Fechar os olhos, abstrair-se do mundo exterior e concentrar-se em si. Imaginar imagens de coisas que nos façam felizes. É um exercício muito pessoal. Eu no meu exercício de olhos fechados via passar imagens de gajas, carros, gajas nos carros, carros cheios de gajas e de facto estava a funcionar, até que abri os olhos e vi a "Quinhentos quilos", como carinhosamente gosto de chamar baixinho e se senta no lugar imediatamente em frente ao meu, e que sorria de olhos fechados desfolhando freneticamente páginas e páginas mentais repletas de imagens com coxas de frango, hamburgers, batatas fritas e entrecosto grelhado na brasa.
Outra técnica tida em altíssima consideração é da vela que segundo a estagiária de serviço, é altamente relaxante. Juntar os dedos indicador e polegar, aproximar da boca e  soprar como se estivéssemos a apagar uma vela. Estão a imaginar? Não faz nada...
Agora imaginem que no meio dos dedos tinha um charutinho (if you know what I men) e que sopravam... Mas ao para trás. Isso é que era relaxante!
Para a semana, amamentação e características do RN. (Não sabem o que é o RN? Incultos... Recém Nascido... TsssTsss)



quinta-feira, 21 de julho de 2011

27 semanas

Desde que entramos no terceiro trimestre que ao contrário do estacionamento num lugar de grávidas, tudo acontece em fast foward. Os dias sucedem-se em cascata e o prazo para os preparativos finais está a apertar.
Preparar o quarto, comprar o que houver a comprar, preparar-me psicologicamente para as aulas de preparação para o parto que iniciam na próxima semana, as arrumações caseiras... Eu sei lá, sei lá!
A tendência das grávidas ao passarem pela F. sorrirem-lhe como se todas fizessem parte de uma grande fraternidade tem vindo a aumentar. É como se fossem colegas de condição, como se à sua maneira e no seu mundo cor-de-rosa sentissem uma ligação psíquica, uma espécie de telepatia. É aquele sorriso do "Olá miguinha especial!", como se se conhecessem sem nunca se terem visto. Como se essa fraternidade imaginária tivesse membros espalhados pelo mundo inteiro, super-senhoras super-especiais com super-poderes super-fófinhos.
Quando confrontada com os factos, a F. simplesmente encolhe os ombros, continua a não sentir essa "afinidade fraterna", essa "telepatia gestacional".

Entretanto o veículo que há umas semanas tinha metido baixa mecânica já está de novo operacional, o que significa que as obras do quarto da Rita avançarão em breve.Ultimamente a F. tem falado com mais frequência nas ditas obras. É porque o tempo está a passar, blá, blá, blá... Porque vi isto não sei onde... Ai que ficava tão giro aquilo assim ali...Sinto que não vou conseguir protelar este momento por muito mais tempo.
Assim como eu, O Joka tem passado mais tempo no quarto que outrora fora o nosso esconderijo. Será verdade o que se diz acerca da capacidade extra-sensorial dos animais? Será que o Joka já percebeu que brevemente seremos despejados do nosso bunker? Do único espaço desta casa até hoje completamente governado por homens? O espaço que brevemente cessará a sua função de escritório, de clube recreativo, discoteca, quarto de hotel (canino) e de quartel general para dar lugar a um imenso, floreado e fófinho... Quarto de princesinha???

Bom, mudando de assunto pois este em particular apela-me ao coração e homem que é homem não chora, come a vaca e usa Old Spice, vamos falar do desenvolvimento da Rita Catita.
Até ver está tudo conforme, tudo está como devia estar. Os órgãos continuam a desenvolver-se de dia para dia, o peso da catraia já ronda um quilo e tal e o tamanho... Sei lá, está grande!
Já pontapeia como se não houvesse amanhã, pontapeia fraquinho, é certo, mas é o suficiente para setenta por cento das vezes, conseguir sentir.
A F. por sua vez está em grande. Não da forma que acha uma vez que ninguém a consegue convencer do quão magnifica está.  Acha que está gorda, que tem um barrigão, que não sei o quê, que não sei quê mais. Acho que de uma forma ou outra, deve ser um discurso comum em todas as casas.
Pois eu acho que está um mimo. Está gira. Está fófinha. Tem uma barriguinha grande é certo, mas fantástica. E para rematar tem umas boobs... Acho que preciso de um copo de água...

Para a semana começam as aulas de preparação para o parto. Uma sala cheia de grávidas a sorrir umas para as outras com a tal da telepatia. Muita conversa de xixi e cocó. E os maridões com o peito à Tony Ramos cheio de ar... A querer fazer conversa de chacha para a pouco e pouco chegar a assuntos tão interessantes como o tempo, tropa e o quão próximos estiveram de vir a ser jogadores de futebol profissional.
Se calhar vou levar o Joka, sempre ajuda a passar o tempo, afasta as grávidas que tem medo das doênças, afasta metade dos maridões pois tem medo de cães e assim como assim, também deve haver muita coisa que o Jokinha precisa de aprender até ao dia da chegada da Rita.

Talvez seja uma boa altura para dizer: - "Oh my dog..."
(e pronto, assim se enfia um trocadilho que não encaixa em lado nenhum mas aqui até fica mais ou menos)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

26 semanas

Volvidas vinte e seis semanas, ou para ser mais justo, vinte e duas desde que comecei esta extenuante cruzada em busca por um lugar de grávida que se encontrasse livre, eis que esta encontrou finalmente o seu termo. Esta longa, solitária e ingrata jornada, qual Indiana Jones em busca da arca perdida, encontrou esta semana o seu final feliz no parque de estacionamento de um espaço comercial seriam talvez umas 22H30 do passado sábado.

Tenho que dizer que foi um momento verdadeiramente poético, pelo menos para mim.
Talvez a uns vinte metros, vi o lugar que ao longe me pareceu vago. O meu primeiro pensamento foi o mesmo de sempre - "Sim Jay, por ser para ti está livre", mas contudo resolvi aproximar-me. Tal e qual uma caçada em que não queremos afastar a presa, aproximei-me devagar. Ao chegar a uns dez metros para meu grande espanto, constato que está de facto livre e foi então que o meu coração começou a bater com a vitalidade de um pace-maker novinho em folha...
Achava eu que estava preparado para este momento, tonto de mim... Sonhei com ele durante meses, até já tinha um discurso preparado para assinalar o acontecimento condignamente e agora... Bom, agora estava ali, tão nervoso como um adolescente perante a sua primeira experiência sexual. Mas tinha que ser, e usando de novo a analogia do adolescente, eu sabia que se demorasse muito a enfiar lá o carro, logo outro mais expedito que eu apareceria e o faria em meu lugar deixando-me desolado e à mercê do velho Deus Whisky...

(daqui em diante a coisa passa-se em câmera lenta. Temos duas hipóteses, ou escrevo usando hífenes entre cada letra, o que dá um trabalhão do camandro e vocês não me pagam para isso, ou fazem o obséquio de ler muito devagarinho e imaginar a coisa em câmera lenta e com esta música de fundo).
Vangelis - Chariots of Fire by kliktyklik

Desapertei dois botões da camisa e limpei o suor que me reluzia na testa. O momento pelo qual tanto havia esperado, sonhado e até chorado durante vinte e duas longas semanas havia batido o pé na linha cronológica da minha insignificante existência. Era agora o tal momento...
Apaguei as luzes para não o afugentar, todos sabemos sabemos o quão assustadiços são estes maguerefes. Meti primeira e avancei devagar no entanto repleto de confiança.  Encontrava-me neste momento talvez a uns seis ou sete metros da Terra Prometida. Por entre o cheiro da maresia e o escape dos carros conseguia sentir perfeitamente o seu odor. Aquele odor frio, carregado e indiferente contudo imensamente penetrante não me enganava... Era alcatrão! O mesmo alcatrão que em segundos suportaria toda a massa mecânica que se ergue sob o capô do meu carro e assim avancei com redobrada cautela, estes últimos metros são sempre decisivos.
Estava nevoeiro, no meu campo de visão nada existia excepto eu e aquele lugar. O resto? As ruas, os edifícios, os outros carros e as pessoas? Não passavam de luzes e sombras, meros espectadores de um grande espectáculo. O grande espectáculo do milagre do estacionamento...
Tudo estava a correr de forma virginalmente perfeita até que aos três metros de distância o meu mundo quase desmoronou... Uma escada... Eu havia passado sob uma escada, mas nem isso me demoveu. Não seria agora que findas vinte e duas semanas e centenas de quilómetros que eu iria desistir. Com este pensamento na mente e a adrenalina a percorrer todo o meu corpo terreno, eu avancei... Mas a sorte decididamente não estava do meu lado, não havia avançado nem meio metro quando vejo um enorme gato preto pavonear-se na frente do carro. Foi então que senti a mão da F. no meu braço. Olhei para ela e disse-me - "Há que saber quando parar Jay... Isto já foi longe demais!"
Assenti com a cabeça e quando já tinha a marcha a trás engrenada, olho de novo para a frente e vejo uma menina puxando um cordel. Na ponta desse cordel não vinha amarrado outro que não o nosso gato preto... Afinal era um gato de peluche!
Engatei primeira e acelerei como um verdadeiro James Dean, agora era para ir até ao fim! Uma grande nuvem de fumo envolveu as imediações, as rodas da frente quase não tocavam o pavimento, uma loucura incontrolável havia tomado conta de mim. Enquanto as lágrimas me escorriam pela cara abaixo ao som daquela voz que me dizia - "Não pares agora Jay, tu vais conseguir! Tu podes tudo!!!", via milímetro a milímetro o meu carro posicionar-se sobre aquele exíguo espaço que até aqui somente fazia parte do meu imaginário. Com toda a minha energia puxei o travão de mão. E segundos depois tudo estava terminado. Estava feito. Estava estacionado!
Olhei para a F. que por entre as lágrimas sorria e me acenava com a cabeça como quem me dizia - " Eu sabia que eras capaz meu querido! É por isto que te amo!"
O meu mais recente e louco sonho estava realizado. Eu havia efectivamente estacionado num lugar de grávida!

(neste momento podem parar a música e retomar um ritmo de leitura normal)

Como em tudo na vida, há sempre conclusões passíveis de se retirar de toda a experiência:
- Conclusão 1 - Este ano Portugal registará um número abismal de nascimentos dada a ocupação constante dos lugares de grávida.
- Conclusão 2 - A ser errada a conclusão 1, à semelhança dos cães o ser humano desenvolveu a capacidade de fazer gravidez psicológica, o que na minha modesta opinião era coisa para irem ao médico...