Ora aí está um momento verdadeiramente peculiar. Todos os pais já passaram por isso, alguns até mais que uma vez. Falo de ter que "notificar" a Entidade Patronal, o que se diga, é obra desenganada.
Dei por mim a pensar durante dias qual seria a abordagem correcta para dar a boa nova. Afinal de contas, não estamos a informar que vamos ser pais, estamos a informar que vamos de férias extraordinárias.
Podemos usar, por exemplo... A abordagem ao coração:
- Ó chefe... Nem imagina, estou tão feliz, é o momento mais feliz da minha vida.
- Diz lá homem, que se passa?
- O milagre, o verdadeiro milagre da vida aconteceu-me! Vou ser pai com todas as implicações previstas no código do trabalho que isso acarreta, tá a ver?
Ou mais duro:
- Chefe, prepare-se que a minha mulher vai ser mãe e a culpa é minha.
- Faz como quiseres...
- Tarde demais, já fiz!
A minha favorita, a abordagem de choque:
- Chefe, vou estar fora durante um ano!
- O quê???
- Calma, estava a reinar, a minha mulher está grávida e vou estar fora só um mês.
Lá me resolvi. Estas coisas não se podem adiar ainda que sintamos sempre que são um local estranho. Dá a sensação que fizemos asneiras e infalivelmente temos que contar, principalmente porque sabemos que não faremos ninguém feliz com a notícia. Patrão nenhum acha piada a dispensar um individuo durante um mês, em alguns casos, licenças partilhadas, mais as visitas ao médico a acompanhar a parturiente e que estas últimas, nem sequer podem descontar no ordenado.
Assim, resolvi improvisar, não pensar em nada antecipadamente. Dei duas goladas numa garrafa de wisky, enchi o peito de ar, sacudi o casaco e dirigi-me ao seu gabinete:
- Posso chefe?
(silêncio)
- Era só para comunicar que vou ser pai e que a criança deverá nescer lá para início de Outubro. Ainda falta muito tempo mas é mais para que fique a saber.
- Está bem.
- Com licença. (e retirei-me).
Primeiro ponto: - Está bem? Está bem??? Que está bem sei eu, não fui lá para pedir aprovação! É um facto que a F. está de esperanças e que a correr tudo bem, em início de Outubro, o pimpolho salta cá para fora.
E depois ainda que amarelado, o "Parabéns" da ordem ficava-lhe bem. Não estava à espera de uma palmada nas costas e um elogio ao meu "material", mas se não se considera o nascimento de uma criança motivo para parabenizar alguém, porquê fazê-lo da última vez que troquei de carro?
São prioridades que não se conjugam, é o que é...
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