Há algumas coisas nesta vida que me fazem muita confusão. A amamentação em locais públicos é uma delas.
Eu gosto de maminhas. Sabe Deus o quanto eu gosto de maminhas. Eu era capaz de viver de maminhas!
E nosso Senhor também sabe o quanto sonho com um mundo desprovido de fome, guerra, doenças com nomes tão simplificados ao nível de se comporem apenas por iniciais... E até era individuo para abdicar do meu sonho de acabar com a fome, a guerra e as doenças... Mas as maminhas, essas...
E ainda assim faz-me confusão!
Chamem-me antiquado, chamem-me quadrado, redondo ou triangular. Chamem-me conservador, chamem-me careta, cota... O que vos aprouver.
Se eu abordasse uma menina e pedisse educadamente que me mostrasse os peitos, no mínimo daria lugar a uma mão cheia de insultos e qui ça em menina mais afoita talvez uma ou duas chapadas à moda antiga. Por seu lado, marido ou namorado se presente, certamente se me lançaria aos dentes, de mão fechada não descansando ou desarmando enquanto existissem na minha boca dois dentes que se conseguissem tocar entre si.
Então, porque é que de repente apenas pelo seu estado lactante de repente tudo é permitido? Toda a vergonha de uma vida se desvanece de um dia para o outro? Eu já ouvi dizer que até a mais envergonhada das senhoras perde toda vergonha na mesa de parto. Está ali, de pernoca aberta e toda a gente que passa, médicos e enfermeiros entenda-se (e ocasionalmente o entregador de pizzas se coincidir a hora de almoço e alguém deixar a porta do bloco aberta) ao passar olham e até mexem para ir controlando a dilatação. Mas mesmo isto não pode ser assim tão libertador que dure uma mão cheia de meses...
Serão os fins a justificar os meios?
Sentir-se-ão as meninas uma espécie de João Garcia a escalar os Pirenéus para sensibilizar o mundo da fome que se vive em África com a diferença de que as vossas maminhas não são os pirinéus nem o leitinho que dão à criança algum dia acabaria com a fome dos meninos do Huambo?
Será o período de amamentação uma espécie de Carnaval em que ninguém leva a mal?
E os maridos? Se abrandarmos um pouco o raciocínio e olharmos para a verdadeira essência do homem, o seu lado mais primitivo, mais animal conseguimos uma teoria plausível.
Macho que é macho gosta de se mostrar, gosta de fazer inveja. Não há melhor sentimento que ver aquele vizinho tinhoso babar-se pelo nosso novo carro com duzentos cavalos, ABS e ESP; o telemóvel com GPS, PSP, LCD, LSD, DST e sei lá que mais quê; ou na nossa nova namorada que é um zero a matemática mas tem uns 86-60-86 calculados à décima.... Faz parte de nós.
Fico feliz se o meu vizinho estiver bem. Fico ainda mais feliz se estiver miserável à conta da inveja que sente de mim. Um pouco como a amizade entre as mulheres mas saudável e sem consequências sérias.
Não há inveja maior entre homens que uma namorada ou esposa com "glândulas mamárias" generosas ou um vale para um ano de cerveja à borla. Como os cheque-bejeca não andam propriamente a cair das árvores, sobram as mamocas como trunfo na manga nestas batalhas titânicas.
Ainda assim... Faz-me confusão. Com todo o gozo que tiro ao ver os outros invejarem-me, as mamocas da minha jove são coisa muito nossa.
Depois há a questão do desconforto que causam aos outros, homens em particular.
Uma sala com cerca de trinta metros quadrados. A lactante mete-se em posição, dá um jeito á criança e tunga, mamoca para fora. Estamos distraídos com a conversa e quando olhamos vemo-nos envolvidos num dos maiores dilemas da nossa vida adulta. Olhar ou não olhar. Se olhamos somos tarados, se não olhamos somos preconceituosos. Ainda assim optamos por não olhar.
Olhamos para todo o lado na sala. Admiramos o branco dos tectos, a beleza dos quadros com o menino e a menina que choram e a impressionante suavidade dos tecidos dos sofás.
Olhamos para o tapete e pensamos: "What the heck, that is a magnificent rug" (gosto de ter estes pensamentos em Inglês, dão-me um ar mais intelectual e neste caso mantêm-me a mente ocupada mais tempo). Fazemos uma força sobre-humana para não olhar para as mamas da mulher do nosso melhor amigo enquanto rezamos para que aquele momento acabe rapidamente.
Arrependemo-nos solenemente por um dia termos pedido a Deus que ao menos uma vez na vida víssemos ao vivo umas marofas como as da Pamela Anderson. Não era isto que queríamos dizer!
É stressante, é constrangedor, é acima de tudo um contra-senso colossal o recato com que guardam as "meninas" durante umas dezenas de anos e que a maternidade seja de tal forma libertadora que passem a património local.
Apesar da apatia própria da primeira semana de trabalho pós-férias e do lento e penoso recobro da normalidade da vida diária, a Ritinha vai dando uns chutos na barriga da F. lembrando-nos que vamos ter mudanças sérias muito brevemente. Curiosamente ao som de Bon Jovi a magana não só dá chutos com dança. Só ainda não conseguimos arranjar forma foi de pôr a pirralha a fazer o pino...
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