segunda-feira, 12 de setembro de 2011

37 semanas

Estamos a chegar ao fim desta jornada, já deixamos para trás trinta e sete semanas e faltam apenas duas para completar a pré-história da Rita.
Duas semanas iguais a todas as outras mas que no entanto me parecem dois meses. Ao mesmo tempo, o tempo que falta parece-me pouco para tudo que ainda falta fazer. O que é que falta fazer? Sei lá, acho que nada. Ainda assim não sei se vou ter tempo!

As aulas de preparação para o parto terminaram. Com elas terminaram os olhares de desdém que a F. levava de cada vez que alguém dizia em voz alta a palavra "cesariana". Acho que no fundo a F. representava para o resto das futuras mamãs uma espécie de Robocop da maternidade.
Não percebo o porquê da surpresa, por um motivo ou por outro, todas elas em alguma altura serão alvo da sobranceria do colectivo.
Uma porque é um pãozinho sem sal, até um supositório consegue ter mais sex-appeal.
A outra que para ser um sofá só lhe faltam duas almofadas (ás vezes quando vem de carteira juro que não é fácil distinguir).
E a outra? Sim essa, a Brasileira que fala pelos cotovelos e já ninguém a pode ouvir. Que já teve todas as doenças do mundo quando era piquéniná, né?
Falam mal umas das outras, medem-se de cima abaixo, avaliam-se e vão-se testando umas ás outras com sorrisinhos e comentários "construtivos" carregadinhos de segundas, terceiras e quartas intenções. Enfim, nada de novo no mundo das mulheres.
Já os maridões são mais directos e objectivos. Desde o dia em que me lançaram o olhar do "Estou-te a ver, juízinho que eu estou-te a ver!", mantiveram a coerência e saí de lá conforme entrei. Não fomos beber cervejas, não fizemos o "male bonding" nem partilhamos e-mails de baixo nível. Nada, nickles, népia, nichts,  nestes; nerone!

A última aula desta semana foi assustadora. Primeiros-socorros.
Aquilo que tentamos convencer-nos a nós próprios que nunca iremos precisar, que só acontece aos outros e aos filhos dos outros que são tão otários que nem sabem engolir convenientemente.
Eu sei que as crianças não andam por aí a bater com a cabeças nas paredes ou a entalarem-se com pedaços de pão e caroços de azeitona, ou será que andam?
E se isso acontecer quem é que eu quero ser? Quero ser o tipo que teve vergonha de pegar no boneco e dar-lhe dois valentes murros nas costas para expelir o grão-de-bico que foi para o sitio errado, ou o que prestou atenção ás aulas de preparação, fez ressuscitação cardio-vascular num boneco que faz chichi e diz "gosto tanto de ti, abraça-me" e aprendeu as práticas que podem vir a salvar a vida de um filho?

Estas dúvidas fazem-nos pensar no significado de ter um filho. Os vários pontos de vista possíveis.
Ponto de vista romântico - É o resultado do amor entre mim e a F.
Ponto de vista cientifico - Não passa do resultado de uma caboiada e ponto final.
Ponto de vista teológico - O padre da freguesia jura a pés juntos que é uma dádiva de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ponto de vista Social - As finanças esfregam as mãos pois para eles é mais uma contribuinte.
Para mim? Não sei.... Sei que nunca senti tão pouco controle sobre mim próprio, sobre os meus próprios sentimentos e medos. De repente deixei de ter vontade de comprar coisas para mim, tudo me parece dinheiro mal gasto, já com coisas para a Rita são sempre um bom investimento.
Ansiedade? Chegou a novos níveis. Actualmente vivo ansioso, já se tornou uma forma de estar. Vivo ansioso que a Rita nasça, vivo ansioso por lhe dar o primeiro banho, por lhe pegar ao colo a primeira vez, vestir-lhe o primeiro fato que lhe compramos e que tem umas orelhas de urso.
Vivo ansioso por chegar a casa do primeiro dia de trabalho e tê-la lá com a F. e com o Joka num quadro perfeito. Anseio os primeiros passos e as primeiras palavras. A primeira bolsada numa camisa acabada de vestir.
Tenho vivido os últimos anos da minha vida a a lutar contra a ansiedade. Mas não desta vez, afinal a ansiedade não tem necessariamente que ser qualquer coisa de mau e negativo, Nem toda a ansiedade se traduz em nervos e mal-estar.
Ás vezes simplesmente andamos ansiosos por um bocadinho extra de felicidade...

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